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A versatilidade artística de Mano de Baé

por Sivaldo Venerando 

“A arte pra mim é superação, evolução. Não tem como você se embebecer da arte e não evoluir”. A frase é do coquista Mano de Baé. A veia artística está no sangue. É filho de Manoel Leão Machado, músico e artesão, mais conhecido como “Seu Baé” ou “Mestre Baé”.

Mano foi batizado Evilásio Leão Machado. Desde a adolescência, costumava compor versos sobre fatos cotidianos ocorridos com seus parentes. Era costume da família resenhar os deslizes caseiros e tudo virava peça de arte humorística.

Mesmo observando a fortaleza da cultura de raiz, Mano fez algumas tentativas em sentido contrário. Montou uma banda de rock, mas sem sucesso. Sua inclinação para o coco de roda deu-se quando o artista procurava o amadurecimento em uma das vertentes da arte. O encontro ocorreu na feira de Tracunhaém ao ouvir o coco de Zé de Teté.

Ali, Mano se descobriu. “Vi que era aquilo que eu queria fazer”, conta. A partir daí foi incorporando elementos da cultura popular, sobretudo as manifestações da Mata Norte. “O meu coco reúne elementos da alfaia do litoral mesclado com o coco de engenho da Zona da Mata”, explica.

Foi a poesia do coco de roda que forjou de vez seu perfil como artista: poeta coquista. Em 2010, Mano de Baé visitou o Senegal a convite do mestre Maciel Salu para acompanhá-lo no “Festival de Arte e Cultura Negra do Mundo”.

Junto com seu irmão e também coquista Eliú Leão, ou Chinho de Baé, fundou a “Sambada de Baé” que em cada primeiro sábado do mês toma o centro de Tracunhaém fazendo o povo sambar coco até a madrugada. A Sambada se tornou um misto de paixão, resistência e militância. Tendo chegado a comemorar três anos alicerçada apenas na vontade de seus realizadores.

Atualmente a Sambada de Baé é umMano de b colorido mosaico onde se agrega o coco, a ciranda, as brincadeiras de boi, recital de poesias e hip hop, tudo “junto e misturado” como prega a gíria do momento. As sambadas que varam as madrugadas abrindo cada mês, ressuscitou a ação de mestres da cultura popular que se encontravam parados e fora de atuação, essencialmente pela marginalização e falta de espaço em eventos onde a hegemonia da cultura de massa sufocou a cultura popular tradicional.

O barro – A prática do artesanato foi herdada do pai, o “mestre Baé”. No início Mano apenas preparava o barro e dava acabamento nas peças. Com a morte do pai, passou a fazer tudo, e foi observando a linha de trabalho do pai que revelou-se como artesão. Desde cedo aprendeu a crescer se melando de barro e tendo seu melhor brinquedo na mágica dos instrumentos dos artesãos, nas carreiras entre os tornos e os fornos dos oleiros.

Multi – Mano começou a cantar na banda “Homens de Barro “que atuou na cena musical regional de 2009 a 2014, com um trabalho plasmado na mistura de coco, maracatu, forró, samba, rock e hip hop. Suas participações nas peças A Inconveniência de Ter Coragem e Mané Gostoso e o Vai-eVém do Lúdico, ajudou a melhorar sua performance artística. Também é articulador da Mostra Canavial de Cinema em Tracunhaém. Esse multi – artista na verdade é um agitador da vida e da cultura, porque parafraseando Francisco Julião de Paula: “é inconcebível a vida sem agitação”.

*Matéria publicada na edição de Julho do Jornal Voz do Planalto

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