Saúde

Agentes distribuem capas para caixa d'água e pedem apoio da população

JC Online

Diante de uma nova epidemia de dengue,  agentes de saúde ambiental do Recife têm ido além da colocação de larvicida biológico nas caixas d’água e tonéis. Para conter a população de Aedes aegypti, os profissionais de saúde estão colocando capas para vedar as bordas desses tanques improvisados e apelam para a corresponsabilidade. Cerca de 90% dos focos estão justamente nos reservatórios domésticos, que se multiplicam em época de racionamento d’água.

“Não adianta apenas a nossa visita. É importante que as pessoas tenham consciência do seu papel e sigam as orientações da saúde pública. A casa precisa ser vigiada 24 horas pelo morador ou proprietário”, ensina Nadilson Galindo, agente de saúde e supervisor de um grupo de 12 profissionais que atuam numa das áreas da Zona Norte, a mais castigada pela doença. Cerca de 56% dos atuais doentes moram na região, segundo o secretário municipal de Saúde, Jaílson Correia. Dos nove bairros com maior incidência de casos, cinco ficam nesse território.

Na tarde de ontem,  debaixo de chuva, uma equipe visitou residências nos arredores do Mercado de Casa Amarela. Como acontece diariamente, encontrou larvas de Aedes em tonéis e  insistiu em recomendações antigas, mas ainda descumpridas, como a lavagem regular das caixas, com escovação do fundo e das paredes, além da retirada de entulhos dos quintais. A limpeza dos tanques é fundamental para remover ovos que podem eclodir mesmo depois de um ano, gerando mosquitos. O uso da capa  é importante na ausência da tampa ou mesmo quando ela não oferece a vedação completa. Quem não recebeu a oferecida pelos agentes pode usar um véu ou um pedaço de pano, que deve ser preso por cordão ou elástico.“Infelizmente há pessoas resistindo à capa”, observa o agente Nadilson, há dez anos fazendo trabalho de campo.

Cada agente é responsável por 800 a mil imóveis. A cada dois meses ele renova a visita, contando e tratando focos do mosquito. Na próxima semana, por exemplo, deve ser realizado um novo Levantamento de Índice Rápido de Infestação, uma  estratégia adotada no Estado há dois anos. Claudenice Pontes, coordenadora estadual de Controle da Dengue, explica que a ação é obrigatória em todos os municípios.

Mesmo em ruas com abastecimento regular, moradores guardam água em baldes, temendo ser surpreendidos pela falta d’água. “Somos oito pessoas. Por isso, precisamos ter três tanques cheios”, conta a dona de casa Maria Rita da Conceição, 81 anos, moradora do Alto Santa Isabel. “O governo não dá opção, a gente tem que juntar água e se expor à dengue”, comenta o genro dela, Alcides Albuquerque.

Depois de  amanhã a Prefeitura do Recife  realizará reunião  com diferentes secretarias e representantes da sociedade. O objetivo é acionar um comitê de mobilização, somando forças para conter a dengue. O secretário de Saúde, Jaílson Correia, confirmou no fim de semana o início da epidemia.

SINAIS DA DOENÇA

A dengue tem se manifestado de forma mais branda neste início de ano no Estado, apesar da provável circulação de quatro tipos de vírus. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, o DENV-4 e o DENV- 1 foram isolados desde janeiro, enquanto o DENV- 2 e   o DENV- 3 reapareceram no fim de 2014, quando começou a haver uma explosão de adoecimentos.

Médicos que atuam nas urgências observam  pacientes com  menor tempo e intensidade de febre, mas, ao mesmo tempo, com  maior frequência de manchas vermelhas e coceira na pele. Mesmo em casos graves, os sintomas estão discretos.

“Recebemos doentes com baixa acentuada de plaquetas, com 30 mil e até cinco mil (o normal é ter no mínimo é 150 mil), derrame pleural e sem qualquer queixa, como tontura, dor abdominal ou sangramento”, alerta o infectologista Demétrius Montenegro, chefe do Isolamento de Doenças Infecciosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), no Recife, a referência para casos graves. Ele chama a atenção dos colegas das urgências menores, para que continuem pedindo exame de sangue para dosar plaquetas, principalmente no quarto dia após o aparecimento dos sintomas. A doença mais branda poderia estar associada ao vírus 4, mas como há outros em circulação, os especialistas ainda não têm como precisar o que está acontecendo.

Rodrigo Bandeira, presidente da Associação de Médicos de Família e Comunidade, que atua em posto de saúde na Zona Norte do Recife,  constata  a rápida recuperação dos doentes. “Muitos têm chegado praticamente sem febre, só com as reação dermatológica característica do final da doença”, diz. No Recife, o número de doentes confirmados subiu 140% nesses dois primeiros meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Em todo o Estado o aumento é de 47%.

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