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ARTIGO DE OPINIÃO: Pela volta do trem

Por André Cardoso – Historiador

No ano de 1858 partiu do Recife o primeiro trem pernambucano, o segundo do Brasil. Levava 400 pessoas com destino à então Vila do Cabo. Essa primeira composição levava também a crença no progresso por meio da integração entre as mais distantes localidades, que se realizaria por meio dos trilhos. Era o que registravam os jornais à época, ressaltando a importância dos primeiros empreendimentos ferroviários no Brasil,  possibilitando-nos captar os ideais do momento. Hoje, 160 anos depois, observamos o percurso realizado da era da locomotiva a vapor ao moderno trem elétrico, mas sem ter muito a comemorar. Para além da marcante data, cabe registrar aqui o que representou o transporte ferroviário para Pernambuco e a função que poderia estar desempenhando nesse momento em que, cada vez mais, precisamos voltar aos trilhos.

Só em Pernambuco, havia uma malha de mais de 1.100 km de trilhos, movimentada por trens de passageiros e cargas, imortalizados no imaginário popular, mas deixados de lado no plano da mobilidade. Se você viajar para uma cidade do interior de Pernambuco e se deparar com uma velha estação ferroviária ou trilhos perdidos no tempo, saiba que faziam parte de uma malha bastante funcional, integrada à malha nacional, mas que se encontra inativa. Ficamos reféns dos pneus e em consequência gastamos mais para transportar, em função da ausência de uma verdadeira integração entre modais.

Algumas mobilizações vêm ocorrendo nos últimos anos e alertam a sociedade para a necessidade de termos novamente nossos trens. É o caso dos alunos e professores da UPE Mata Norte que pedem a reativação do trem, ou dos voluntários da ONG Amigos do Trem que, pela consciência da importância do patrimônio ferroviário, vão em busca de sua reativação, nem que seja apenas pelo viés turístico.

O fato é que se sabe do potencial da ferrovia para o transporte regular de pessoas, de cargas ou com a finalidade do lazer. O trem, assim como no passado criou cidades, também não faria diferente ao movimentar economias locais, gerar emprego e renda e, por meio da integração com outras modalidades de transportes, proporcionar uma maior qualidade de vida, com menos acidentes e menos tempo gasto em pontos de embarque e engarrafamentos quilométricos.

A recente mobilização dos caminhoneiros por todo o país evidenciou essa necessidade. Não quero com isso dizer que o trem precisa substituir o transporte rodoviário, assim como foi feito catastroficamente ao contrário nas últimas décadas. O que precisamos é de uma integração entre esses diferentes meios de transporte, corrigindo os erros do passado, ampliando e reativando o que se perdeu. Na Região Metropolitana do Recife, o metrô precisa de expansão, corredores de VLT. Na Zona da Mata, Agreste e Sertão, que voltem os trens de longo curso,os trens regionais. Precisamos dos cargueiros, da conclusão da Transnordestina. A necessidade de se repensar nossos sistemas de transporte é evidente. Nesse processo, a retomada dos trilhos deve ser posta como prioridade.

 

*ARTIGO PUBLICADO NA EDIÇÃO 223 DO JORNAL VOZ DO PLANALTO- JULHO 2018

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