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Consultora educacional fala do perfil do professor

Rosejara Ramos de Oliveira é referência profissional

Consultora educacional de grandes grupos, a exemplo do JCPM e da Fundação Lemann, Rosejara Ramos de Oliveira tem um bem sucedido currículo na educação.

Professora das redes particular e pública, ganhou destaque ao assumir a função de supervisora pedagógica da Escola Estadual Professora Jandira de Andrade Lima (Ceru-Limoeiro), quando conseguiu aprovar a primeira Unidade Executora de Apoio de Pernambuco, o que lhe rendeu elogios de melhor gestora do Estado. Depois, atuou como Gerente de Projetos Especiais na Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, assumindo temporariamente a Superintendência de Planejamento e Avaliação da Secretaria de Educação do Estado, tendo exercido também a função de Coordenadora Executiva Estadual do Programa FUNDESCOLA/FNDE/MEC.

Diretora Pedagógica do Colégio Pentágono, Profissional Coaching pelo IBC, ela também foi secretária municipal de Educação de Limoeiro/PE e presidente da Autarquia de Ensino Superior de Limoeiro no período de 2013 a 2016. Pelo talento para negócios na área escolar, onde o Pentágono possui um Plano de Negócio, tornou-se creditada para prestar consultoria em educação. Dessa forma, foi selecionada pelo MEC (Ministério da Educação) e UNDIME Nacional, para treinar Secretários Municipais e Equipes Técnicas do Estado de Pernambuco.

Rosejara Ramos trata sobre o perfil do profissional da educação, valorização da classe, aprendizagem transformadora e outros assuntos.

O perfil dos profissionais da educação

“É muito forte o que se diz sobre o perfil do professor no Brasil. Infelizmente, não podemos deixar de fazer a autocrítica. Muitas vezes a acomodação elimina a minha competência, o meu profissionalismo. O que ocorreu no Brasil foi muito isso. A falta de líderes natos conhecedores do valor do outro fez com que cada um caminhasse por si mesmo e não buscasse em si aquela garra de fazer o melhor porque eu posso. E foi muitas vezes nas funções que exerci que fui tida como uma líder chata, rigorosa quando a única coisa que eu fazia era tentar tirar o melhor dos profissionais liderados, para que se sentissem mais úteis, capazes e felizes com o que era possível fazer. E muitos deles agradeciam porque entendiam que podiam chegar mais além, e despertaram. O que fiz foi despertar valores; a criação do Prêmio Mozart Neves é uma prova disso”.

Como mudar (reformar) esse paradigma?

“Vivemos um marasmo. Não vemos profissionais se renovando. Temos resultados quantitativos e não qualitativos, porque não se explica ranking onde estudos de economistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), divulgados na imprensa, e o próprio Ministério da Educação colocam que nossos estudantes estão saindo do 9º Ano sem proficiência em leitura, em escrita e cálculo matemático. Então, há mediocridade na profissão – e eu falava muito isso – e quem passou a desvalorizar a profissão fomos nós mesmos. Antigamente, havia uma forma de se vestir da maneira mais digna possível para ir para a sala de aula. Hoje se vê professores indo quase nus para lecionar, com camisas em mal estado. E não adianta dizer que é por conta do baixo salário, porque vestindo-se mal ninguém traz referência para o aluno. Dessa forma, reforça-se a ideia de que ninguém quer ser professor. Antes se tinha professor que dava aula de paletó e gravata, porque dignificava a profissão. Então, a reforma começa em cada um”.

O futuro

“O que vem por aí na educação já se propagava, que é fazer um processo seletivo dos professores, uma prova. Aquele que não estiver bem, terá que voltar às bancas de estudo para se aperfeiçoar. Sabemos que o mundo acadêmico hoje é muito dinâmico e abriu-se muito as portas. Percebemos que nem tudo que é necessário para a formação de um bom professor se ensina na graduação. Há uma necessidade emergencial de resgatar primeiro o valor e o perfil do professor, não só do ponto de vista monetário, porque é consequente, mas do valor do nome, profissão. Por que vem caindo muito o número de pessoas que desejam ser professor? Antes se queria mais. E tem professor que ganha mais do que um fisioterapeuta, do que um advogado. Então tem algo errado que só nós da categoria podemos resgatar. Trata-se de uma luta estrutural, de consciência, de estudo, aperfeiçoamento e de aceitação do “mea culpa”.

Alcançar a excelência no ensino e conseguir transformações

A excelência no ensino é conquistada paulatinamente. Existe também uma grande distância em relação ao termo excelência. Muitos acham que a excelência vem acoplada do imediato resultado. Se eu tenho uma máquina e ela consegue fazer dez camisas, eu digo que ela está no nível de excelência. Mas na educação, eu tenho que visar a uma questão de excelência muito mais aprofundada. O que é ter excelência na educação? É apenas ter o resultado pelo resultado, ou é ter o resultado dentro de um impacto social que aquele aluno possa dar na sociedade? Essa é a grande diferença. Muitos alunos estão saindo de uma forma muito competitiva na busca pelo resultado. Esses alunos vão para a sociedade com essa visão altamente competitiva. Já se tem registros por aí que esses alunos se transformam nos piores profissionais, porque se trabalhou a competitividade, o derrubar o outro para chegar lá. Mas se eu tenho o resultado acoplado a uma formação humana, eu tenho os melhores profissionais. Aí eu digo que isso é escola de excelência e é essa escola que eu quero para mim”.

Gestores contribuindo com a aprendizagem transformadora

Primeiro é um grande desafio porque, para contribuir com a aprendizagem transformadora, tem que saber conduzir as pessoas para que possam executar esse tipo de aprendizagem. Como posso dizer que transformo meu aluno, quando repito tudo o que existia no passado? Exemplo: reprovação. Reprovação corresponde a um aluno não atingir ao resultado proposto pela escola. Vamos ao viés da coisa: o aluno passou pelo maternal, foi para os outros níveis e adentra o Ensino Médio, tudo na mesma escola. Quando ele chega aí, você percebe (ao pegar o histórico dele) que ele iniciou bem e pela metade começou a apresentar dificuldades em algumas disciplinas. Como, se ele foi origem dali, dentro de um projeto político-pedagógico em tese, de uma proposta pedagógica, em tese, de uma equipe formada com uma coordenação que vai pelo mesmo prisma de missão, objetivos e valores, esse aluno chega no 8º Ano e começa a apresentar dificuldade em Língua Portuguesa e Matemática, quando sabemos que essas disciplinas, nesse nível, são uma maturação de tudo que foi visto nas séries iniciais? Como ninguém intervém para eliminar a preguiça do aluno? Intervenção pedagógica não existe, mudança de lugar de turma não existe, e aí eu sacramento um resultado: reprovado. Quando eu reprovo, estou reprovando a própria escola. Então, uma educação transformadora é aquela que se desamarra dos resquícios do passado, não praticando os códigos do passado”.

 

As mudanças no ensino

“Sobre a Base Nacional Comum Curricular, temos algumas discordâncias do ponto de vista teórico. Mas a nova base se propagava como uma reforma estruturante da educação básica, sobretudo porque se contemplava, discutia-se e perdeu-se tempo nas discussões. O que houve na reforma foi o aumento dos campos de conhecimento. Temos códigos de linguagem, ciências da natureza, ciências humanas, redação, matemática e acresceu-se religião. E o que e legal, é que é um campo de conhecimento onde vai se trabalhar a ética que é a base de tudo no país. A mudança no Enem também acho bem interessante, porque tem que se trabalhar o respeito ao modo de pensar das pessoas. A questão que eu vejo como motivo de preocupação é a EAD. Eu acho que se presencialmente, na educação básica, não estamos conseguindo corrigir a baixa proficiência, imagine colocando uma carga horária com educação a distância. Acho prematuro, até porque, segundo as teorias de Piaget, existem faixas etárias de maturação cognitiva. E muitas escolas propõem atividades para quem não está com um nível de maturação cognitivo, que é o que se dá mais adiante o aluno nota mil na escola, passando em primeiro lugar no vestibular, mas vai cansando e desiste do curso porque a mente não aguentou o peso, por ter sido forçada lá na base. É como um prédio que se começa na base e vai levantando, termina tudo bonito, mas alguns anos após apresenta rachaduras. Então, a mente humana é isso. Você não pode forçar. Eu vejo com preocupação do EAD para a educação básica”.

*Matéria publicada na edição de Janeiro do Jornal Voz do Planalto

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