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Superação marca a trajetória de paudalhense

A trajetória de Antônio Pedro Soares, 63 anos, começa no Engenho Cuçaí da Usina Mussurepe, em Paudalho. Filho do casal José Pedro Soares e Maria do Carmo Soares, do qual nasceram mais sete irmãos, ele foi obrigado, aos 4 anos de idade, a deixar a vida na zona rural, devido a exploração das terras pelo plantio da cana de açúcar, e passar a morar no Alto da Foice- Recife. Na capital, precisou abandonar os estudos e trabalhar aos 12 anos para ajudar os pais. Apenas aos 18 anos voltou a estudar e, por meio do Supletivo Ginasial, concluiu o ensino médio. Seu pai conseguiu um emprego de vigilante noturno no Centro Mariápolis, em Igarassu. Essa instituição foi decisiva para o incentivo a sua formação profissional e educacional.

Através do incentivo da Dr. Maria da Conceição Lins de Albuquerque Almeida, conhecida por Concita, Antônio Pedro passou a se preparar para um concurso de Técnico de Laboratório de Histologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Com a ajuda de um funcionário do local ele conheceu as técnicas necessárias para esta função. Foi aprovado e trabalhou nessa área por 37 anos. Formou-se em Ciências Biológicas, pela UFRPE, cursou ainda pós- graduação em Morfologia e Capacitação Pedagógica para Formação de Professores e fez Mestrado na área de Ciência Animal e o Doutorado em Ciência Veterinária.

Na Rede Estadual de Ensino lecionou por 10 anos, na Escola Professor Mardônio de Andrade Lima Coelho, na Bomba do Hemetério-Recife. Posteriormente foi aprovado no concurso para a Faculdade de Palmares onde ensinou por 20 anos, além de outras faculdades como a de Belo Jardim e na Faculdade Adventista de Fisioterapia da Bahia. Como agente político teve significativa atuação na área sindical. Assumiu a presidência da Associação dos Servidores da UFRPE e fundou a Federação dos Servidores Públicos Federais de Pernambuco, da qual foi presidente e articulou a formação de outros sindicatos de servidores federais.

Essa história de superação da infância pobre, o enfrentamento e adaptações do êxodo rural e conquistas de novas oportunidades na vida pessoal e profissional, por meio da educação, estão narradas na autobiografia Do Engenho Cuçaí às universidades. “É realmente irônico lembrar daquele menino que fui, sem perspectivas, sem estudar na adolescência, que tinha tudo para seguir um destino de violência, drogas ou mesmo ter sido preso ou morto como alguns amigos de infância foram, ser agora homenageado e ressaltado como uma pessoa influente na sociedade”, diz.

A vida de Antônio Pedro sempre foi marcada por recomeços. Divorciado do primeiro casamento que durou 20 anos e resultou em 5 filhos e 9 netos, ele formalizou uma nova união, desta vez com uma aluna do Curso de Biologia, Érica Bruna de Andrade, que na época tinha 21 anos e ele com 49. Desta união nasceram as filhas, Maria Carolina, hoje com 14 anos, e Aplysia Catarina, 13 anos. “Eu também estou muito feliz em poder ter construído uma nova família. É sempre difícil, depois de um divórcio de 20 anos de convivência, poder encontrar alguém em que se possa confiar para recomeçar”, relata.

Há cerca de dois anos Antônio Pedro foi acometido por um tipo de câncer na coluna vertebral, denominado Mialoma múltiplo. Ele é paciente oncológico do Hospital Universitário Oswaldo Cruz e há um ano e três meses fez um Transplante de Medula óssea, no Hospital Português, mas continua em tratamento. “Atualmente administrar a doença é um verdadeiro milagre. Estive internado em uma enfermaria com outros seis pacientes e todos vieram a óbito. A estatística de falecimento é muito alta entre os pacientes oncológicos. Eu acredito que vou para o meu centenário para me tornar o portador de mialoma múltiplo mais velho da história”, fala entusiasmado.

Aposentado pela função de professor e por invalidez permanente, Antônio Pedro afirma que precisa reorganizar seu tempo entre o tratamento, a família e a produção de seus novos livros “Monstros Silenciosos”, que retrata sobre os tipos de câncer e está em fase de finalização e uma terceira publicação. “Eu costumo afirma que aposentado sim, inativo e inválido jamais. Eu me sinto hoje extremamente produtivo, mesmo estando em casa”, diz.

Sobre a vida o escritor fala com entusiasmo e confiança que “a vida é bela e ela precisa continuar e ser vivida em toda a sua intensidade. Estou motivado e espero contribuir estimulando outras pessoas e poder contribuir para que elas possam contar suas histórias e viver bem graças a Deus. A vida ganha maior valor quando temos motivação, e a fé em Deus me levou a seguir em frente. Espero encorajar pacientes com esta doença e inspirar pessoas que passam por dificuldades no dia a dia”, conta Antônio Pedro que tem outros planos e projetos.

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